ANTES DE IR À LUA, CUIDAR DA TERRA

 Há dias assim. Tive sorte. Uma amiga ofereceu-me um livro de 1969 escrito pelo seu avô materno. Tenho um interesse especial por livros e escritos do sec. XX. Este livro de poemas foi publicado quando tinha 12 anos, num ano muito especial, o ano da chegada do homem à Lua (Apollo 11). O mundo celebrava um feito tecnológico sem precedentes, mas em muitas regiões havia pobreza, desigualdade, ditaduras (como em Portugal sob o Estado Novo) e guerras (Vietname, por exemplo). A crítica do poeta insere-se neste contexto global e nacional.

Ao ler este poema de Manuel Caetano de Sousa, publicado em Mãos Calejadas (1969), detenho-me no contraste entre o sonho do espaço e a realidade da fome, da guerra e da dor que continuam a marcar a Terra. Num tempo em que o homem chegava à Lua, o poeta lembrava — com palavras simples mas firmes — que há “coisas por cá” a exigir cuidado urgente.
Com ironia e lucidez, critica-se o investimento em “foguetões” enquanto tantos morrem à míngua. Cada planeta, cada galáxia, surge como mais um produto no mercado, reduzido a negócio. E, no entanto, a verdadeira urgência continua a ser humana e terrena.
Este poema, embora escrito há mais de meio século, permanece profundamente atual. Na era da inteligência artificial, da exploração espacial privada e das desigualdades globais, a interrogação essencial permanece: que humanidade queremos construir?
Todas as reações:
AnaInfante Giorgio e a 1 outra pessoa

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