AS ESTEVAS
Tenho paixão pelo Alentejo e pelas estevas.
Digo-o com a certeza de quem já teve a oportunidade de conhecer os silêncios da planície e os aromas agrestes que a primavera liberta do chão. As estevas, com as suas pétalas brancas como véus de noiva, salpicadas de manchas púrpura e centro dourado, surgem como pequenos milagres sobre a terra árida.
São flores humildes, de uma beleza discreta, mas marcante. Surgem em abril, quando o sol começa a aquecer com mais firmeza os montes e vales do sul. No Baixo Alentejo, entre Serpa e Mértola, e também na Serra de Grândola ou nas encostas da Serra de São Mamede, multiplicam-se como estrelas caídas no campo. É nesses lugares que o esteval domina a paisagem, cobrindo os solos pobres com uma vegetação resistente, perfumada e bela.
O que me encanta na esteva não é apenas a sua aparência. É a sua força. É a flor da resistência, que cresce onde outras plantas não ousam. Tolera a seca, os ventos, a pobreza da terra. É como se guardasse dentro de si uma sabedoria ancestral sobre o tempo e a espera.
Curiosa é também a sua brevidade: cada flor vive apenas um dia. Mas a esteva não desiste, não se entristece. A cada amanhecer, oferece novas flores, como se fosse capaz de recomeçar sempre, sem medo. E assim vai florindo, enquanto o calor não a vence.
Em cada passeio que dou por entre os campos ondulantes, sinto-me em paz. O céu azul profundo, o zumbido das abelhas, o perfume resinoso das estevas aquecidas pelo sol — tudo me fala de uma vida simples, mas essencial. É neste cenário que percebo que a natureza tem uma linguagem própria, feita de cores, aromas e silêncios.
A esteva é mais do que uma flor. É um símbolo. Da terra que a vê nascer. Do povo que, como ela, sabe resistir. E de quem, como eu, a ela se entrega — com olhos cheios de admiração e alma cheia de sossego.
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