AS SENTINELAS DE PEDRA DO MOSTEIRO DA BATALHA

Pé ante pé, subimos os 44 degraus da escada em caracol que nos conduzia aos terraços do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, conhecido como Mosteiro da Batalha. O ar fresco envolvia-nos, enquanto o sol brilhava timidamente entre os farrapos de nuvens que rasgavam o céu, dissipando-se após dias de chuva persistente. Dali, a vista abria-se em panoramas grandiosos e, por instantes, o tempo parecia suspender-se.
Olhei ao redor e deixei que a pedra antiga me contasse a sua história. Desde a sua construção, iniciada em 1386 ou 1387 sob a direção de Afonso Domingues, o Mosteiro fora palco de conquistas e tragédias. Erguido para cumprir um voto de D. João I, em agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota, tornou-se símbolo de resistência e devoção. Mas também sofreu as suas provacões: o terramoto de 1755 que lhe rasgou as entranhas, as invasões francesas de 1808 e 1810 que o deixaram em chamas, e a extinção das ordens religiosas, que o entregou ao abandono e degradação.
Os terraços ofereciam um olhar singular sobre as gárgulas do Mosteiro. Criaturas de pedra, grotescas e intrigantes, observavam-nos em silêncio, como se vigiassem o tempo que passava. Algumas traziam formas de animais, outras pareciam figuras humanas distorcidas pela expressividade do medo ou da ira. Dizem que foram esculpidas para afastar os maus espíritos, mas também serviam uma função prática: conduzir a água da chuva para longe das paredes, protegendo-as da erosão.
Uma delas, moderna, foi colocada em 1991, trazendo um olhar contemporâneo a este exército de sentinelas seculares. Inspirada nas antigas, ergue-se discreta, mas fiel às formas que, há mais de cinco séculos, compõem esta sinfonia de pedra.
Ao longo dos séculos, os monges que habitaram o Mosteiro viam-nas todos os dias, talvez sem as notar, talvez lhes atribuindo poderes místicos. Quem sabe se, sob a luz das velas, ao cair da noite, não sussurravam orações a medo, pedindo proteção contra os males invisíveis que assolavam o mundo lá fora?
Atravessando o Mosteiro, sentia-se o peso da história em cada pedra, em cada sombra projetada nas paredes esculpidas. De lugar sagrado a campo de batalha contra a destruição e o abandono, este monumento resistiu ao tempo, assim como as suas gárgulas, fiéis guardiãs de um passado que não se deixa esquecer.
Fotos: Elementos do Grupo que visitaram o Mosteiro.
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Joana Novais, Celia de Freitas e a 6 outras pessoas

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