CÃOZOADA COM FARTURA (1)
Até hoje, tive cinco cães.
Durante alguns anos, chegaram a ser três ao mesmo tempo — uma verdadeira animação cá em casa. Uma cãozoada feliz, barulhenta e cheia de vida.
Ainda hoje o recordo a morrer, com a língua azulada fora da boca, naquela imagem que o tempo não apaga. Chamava-se Rex.
Para aliviar a dor da perda, certo dia, abri o portão e ouvi latidos frágeis, de cão bebé.
Um amigo do meu marido tinha entrado pelo quintal e deixado ali uma cadelinha com dois meses — mais uma perdigueira, de olhar doce e terno, que nos conquistou logo nas primeiras horas.
Chamámo-la Tuka.
Foi uma cadela muito especial.
Ficou prenha duas vezes, mas sofria bastante durante os partos.
Da primeira vez, só teve dois filhotes: um nasceu morto, o outro sobreviveu.
Ao contrário da maioria das cadelas, que procuram um canto isolado para parirem, a Tuka fazia questão de estar sempre connosco. Dormia dentro de casa, acompanhava-nos em toda a nossa vida, sempre atrás de mim. Fazia parte da família.
Lembro-me de um dia, ao entardecer, ter saído e deixado a Tuka em casa com a minha filha. Passado pouco tempo, o telefone tocou.
Era a minha filha a ligar para o pai, aflita:
— A Tuka está a ter os cães!
— Onde?!
— No sofá da sala!
(continua)
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