Um passeio


Enquanto sigo pela estrada abaixo, os meus olhos vão pousando nas moradias que ladeiam a rua, cada uma com a sua história silenciosa. Jardins verdes e bem cuidados se estendem em frente a muitas delas, exibindo árvores frondosas e plantas que dançam suavemente ao toque do vento. Algumas casas têm as persianas corridas, fechadas ao mundo exterior, como se guardassem segredos e momentos privados. Outras deixam-se ver apenas parcialmente, com cortinados que filtram a luz do sol.

Do meu lado direito, num quintal, avisto um medronheiro carregado de frutos vermelhos e maduros, tão convidativos que quase sinto o seu sabor. A tentação de estender a mão e apanhar um é forte, mas contenho-me, sorrindo com a ideia de o dono aparecer de repente, todo arreliado, acusando-me de roubo.

Ainda do mesmo lado da estrada, três carros estão estacionados virados para baixo e quatro para cima, como que formando uma fila desalinhada. Pergunto-me se há uma regra secreta que dita essa disposição ou se é apenas o capricho dos moradores.

Continuando a caminhar, algo inesperado chamou a minha atenção: uma bola de ténis, gasta e esquecida, encaixada num buraco do asfalto como se fosse uma peça de um puzzle. Virei à direita, onde me deparei com uma fileira de contentores de lixo, todos alinhados meticulosamente, aguardando a chegada dos respetivos depósitos.

Mais adiante, uma cena peculiar arrancou-me um sorriso. Um estacionamento com sete lugares perfeitamente delimitados, mas sem um único carro. Em vez disso, erguia-se uma tabela de basquete e duas balizas infantis que dividiam o espaço, como se estivessem à espera de mais um jogo animado. Numa das balizas repousava uma bola vermelha, imóvel e silenciosa, como uma testemunha esquecida de brincadeiras passadas. O contraste era quase poético: um espaço destinado ao estacionamento dos automóveis transformado num terreno de jogos, onde a infância se intrometia na rotina do bairro.

Pensei que o dia estava bonito e soalheiro, daqueles que convidam as pessoas a saírem para o ar livre. Por isso, não me surpreendi ao encontrar dois vizinhos a cavar diligentemente os seus quintais. Continuei a caminhar, quando, de repente, um susto me fez dar um salto para o lado: três cães emergiram de um quintal, ladrando com toda a força, rompendo a calma com uma sinfonia inesperada de latidos. Enquanto estes ladravam furiosamente mais à frente, estava um cachorro, entretido a fazer as suas necessidades junto ao passeio, alheio ao mundo ao seu redor.

Virei a esquina e deparei-me com um velho tronco de árvore, já sem vida, erguendo-se ereto como um vestígio de uma árvore viva de tempos passados. A sua base apresentava uma reentrância que, com um pouco de imaginação, parecia a entrada de uma pequena porta. Fiquei por momentos a observar e a pensar. Que bicharocos fariam daquele espaço o seu lar?



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