Nada
Nada vive em mim como uma presença que não se anuncia, como uma sombra que não projeta luz nem precisa de espaço. Não fala alto, não gesticula, não pede licença. Nada é o silêncio entre os pensamentos, o vazio que se insinua entre os momentos de euforia e a solidão.
Às vezes, imagino Nada como uma figura indistinta, sem rosto, sem forma definida. Um reflexo de ausência que caminha comigo, uma memória de algo que nunca existiu. Nada não sofre, mas também não celebra. É uma testemunha imóvel, uma companheira que não precisa de atenção.
Há dias em que Nada parece maior. Ele cresce dentro de mim, ocupando os espaços que as palavras não alcançam. Sinto-o quando olho pela janela e vejo o vento varrer as folhas sem rumo, ou quando encaro o espelho e não consigo reconhecer a minha própria expressão.
Mas Nada não é inimigo. Aprendi que ele não está aqui para me ferir. Ele ensina. Mostra-me os limites do que sou e do que desejo ser. É na presença de Nada que encontro as perguntas que tenho medo de fazer: quem sou eu sem os papéis que interpreto? O que resta quando tudo se desfaz?
E, paradoxalmente, Nada traz-me algo. Um espaço onde posso recriar, reinventar. É no seu silêncio que descubro a música, na sua vastidão que desenho novos horizontes. Nada é um lembrete de que o vazio também pode ser um começo, de que há beleza no que não é preenchido.
Assim, continuo a caminhar com Nada dentro de mim, aprendendo a aceitá-lo, a ouvi-lo e, por vezes, a agradecê-lo. Afinal, é no nada que o tudo pode nascer.
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