Os Idos de Março

Os idos de março (15 de março) surgiram-me à memória. Lembrei-me de Gaius Julius Caesar (Júlio César), assassinado nesta data em 44 a.C., no Senado de Roma. Foi apunhalado 23 vezes por um grupo de senadores liderados por Bruto e Cássio. A famosa frase: "Até tu, Bruto?" pode nunca ter sido dita, mas a lenda persiste. Sabe-se que Júlio César teve uma amante chamada Servília, e há quem acredite que Bruto pudesse ser seu filho. Atualmente, o dia 15 de março continua a ser lembrado como um marco histórico e cultural, muitas vezes associado a traições políticas e mudanças drásticas no poder.

Imaginar como seria a vida naquela época é algo que me fascina. Transporto-me para aqueles tempos, tentando visualizar o modo de vida das pessoas, especialmente das mulheres. As meninas casavam muito novas, entre os 12 e os 15 anos, quase sempre com homens mais velhos. Imagino Lívia, inquieta, sabendo que sua família negociou seu casamento com Titus, um homem que ainda não conheceu. Tudo o que sabe é que ele é comerciante e possui uma taberna onde o povo se reúne para beber vinho e petiscar. Essa ideia até lhe agrada. Talvez venha a servir os clientes e a cozinhar.

Lívia tem a tez morena, olhos escuros como a noite e cabelos lisos e brilhantes. Contudo, não aprecia a sua pele bronzeada, achando-a demasiado escura, com o tom de azeitonas esmagadas. Todas as manhãs, cobre-se com pó de giz, tentando alcançar a brancura etérea das damas ricas. Depois, enrola os cabelos, ajusta o strophium (soutien) para acomodar os seios volumosos e veste a stola (vestido). Por fim, envolve-se na palla (manto) e sai, determinada. Hoje tem um objetivo: quer espreitar, mesmo que de longe, o homem com quem partilhará o futuro.

Caminha pelas ruas movimentadas de Roma, desviando-se dos vendedores que gritam suas ofertas, das carroças e dos transeuntes apressados. O cheiro de pão acabado de cozer mistura-se com o aroma forte do garum, o molho de peixe que tempera a maioria das refeições. Lívia aperta a palla ao redor do corpo, tentando parecer discreta enquanto se aproxima da taberna de Titus.

Através da entrada semicerrada, vê-o pela primeira vez. Titus é um homem robusto, de barba curta e cabelo encaracolado. Move-se com segurança entre os barris de vinho, dando ordens a um escravo que limpa as mesas. Ele ri-se de algo que um cliente diz e a sua voz ressoa pelo recinto. Parece simpático, mas será um bom marido?

Lívia sente o coração bater mais rápido. Dentro de alguns dias, será sua esposa. Voltará a ter alguma liberdade, ou apenas trocará a casa do pai pela de Titus? Não sabe a resposta, mas uma certeza cresce dentro de si: precisa encontrar uma forma de garantir que a sua voz será ouvida.



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