Os Meios-Velhos e o Peso da Solidão
Nos últimos tempos, uma vontade inquieta crescia dentro de mim: escrever sobre a velhice. Talvez porque agora pertença a essa faixa, porque vivi o suficiente para perceber que envelhecer não é apenas uma questão de anos, mas de fases. Não sou ainda velha, sou meio-velha — desses que espreitam os 70 com um pé no passado e outro no desconhecido. Pergunto-me se algum dia chegarei a saber o que é ser verdadeiramente velho, ou se ficarei sempre a meio caminho.
Foi a notícia da morte de Gene Hackman e da sua mulher que me trouxe este pensamento. Pedro Chagas Freitas escreveu que Hackman não morreu de doença, nem de idade. Morreu de solidão. E isso ficou-me a ecoar na mente.
A sociedade gosta de pintar a velhice como uma fase pacífica, uma espécie de descanso merecido. Reformados, sem horários para cumprir, rodeados de filhos, netos e amigos. Parece um quadro perfeito. Mas a verdade é outra: ninguém nos prepara para a perda. A perda da agilidade, da memória afiada, da certeza de que podíamos abraçar o mundo com força.
Aceitamos as maleitas porque não temos alternativa. Dizemos que compreendemos, mas, cá dentro, há um lamento silencioso. A experiência, a sabedoria e o conhecimento que acumulámos não são suficientes para compensar a leveza dos passos de outrora, o raciocínio rápido, a confiança quase arrogante de quem se sente dono do seu próprio destino.
Sim, há momentos bons. Há risos e abraços, há a serenidade que só os anos ensinam. Mas não me peçam para romantizar a velhice. Porque, no fim de contas, a solidão espreita em cada esquina e nem sempre há um Gene Hackman para nos lembrar disso.
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