Se eu encontrasse o rapaz que queria namorar comigo…

Faria uma festa discreta no coração. Procuraria o seu nome na internet, aquele que ainda guardo desde os meus treze anos. Certamente o encontraria, se tivesse redes sociais. Talvez uma fotografia, uma partilha, qualquer rasto digital que me dissesse: “Está aqui. Este é ele.” Fecharia os olhos e recordaria o seu sorriso largo, luminoso, como se tivesse o sol dentro. Perguntar-me-ia se ainda sorriria assim, com essa espontaneidade que o distinguia dos outros. Como terá sido a sua vida? Terá casado? Terá filhos? Que profissão escolheria aquele rapaz que só queria namorar comigo? Terá deixado de ser o lingrinhas de pernas magras e olhar doce?

As memórias voltam devagar. Naquele tempo, ele queria namorar comigo. Não aconteceu. Fui eu que não quis. Estava mais ocupada a crescer, a descobrir a amizade das raparigas, a construir o meu lugar. Nunca tive jeito com rapazes. Intimidavam-me, talvez por não saber o que fazer com os sentimentos que despertavam. Eles pareciam sempre ter pressa. Eu não.

Hoje, imaginei que o encontrava por acaso numa rua qualquer. Cruzámos os olhos e reconhecemo-nos. O tempo tinha passado, mas a amizade antiga, guardada em silêncio, permanecia viva. Era um homem feito, bonito, interessante. Conversámos como se o tempo não tivesse importância. O passado tornou-se presente naquele instante suspenso, e o futuro... uma hipótese.

Senti que poderia gostar dele agora. Já não havia medo. Ele sorria, e esse sorriso, ainda o mesmo, encantava-me. Estávamos sós, talvez mais preparados, mais atentos um ao outro. Imaginei-nos partilhando cafés, conversas longas, rotinas calmas. Mas também me perguntei: seria suficiente o afeto para sustentar uma vida a dois? Seriam os nossos gostos, tão distintos talvez, compatíveis o bastante? Ou seriam os sonhos de hoje tão frágeis como os de ontem?

Abri os olhos. A rua estava vazia. O encontro não aconteceu. E, no entanto, dentro de mim, continuava a dançar essa ilusão terna. Porque as ilusões também são uma forma de amor. E eu gosto de pensar que, se nos tivéssemos conhecido verdadeiramente, ao longo de cinco anos, talvez o amor tivesse crescido. Talvez. Ou talvez não. Mas o que fica é esta sensação agridoce de um “e se” que se transforma em memória, mesmo sem nunca ter acontecido.

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